Pages

Laicidade brasileira, evangélicos e um pouco sobre ignorância, alienação e filosofia moral - parte 1



O Pensador é uma das mais famosas esculturas de bronze do escultor francês Auguste Rodin.
Poderia dizer que ele estaria mal informado sobre a situação (diria até que despreparado), mas não quero acreditar muito nessa minha versão-desculpa para a baboseira dita pelo mesmo. Acho que vocês podem não estar entendendo. Não se preocupe, explicarei a vocês o ocorrido.


Dia 13 de Novembro, Terça-feira a noite. Sendo mais preciso e exato, em sala de aula, no 3º tempo. Sim, sou estudante de escola pública. Não porque quero, mas porque foi inevitável eu estudar em uma(falar de minha vida não é foco desta postagem). Em escola pública, ainda mais as do Brasil, o ensino não é lá essas coisas e deverá continuar assim por um bom tempo se depender da população. É sabido também que além de falta de infraestrutura para um completo ambiente escolar, os professores são mal pagos e qualificados, entretanto, essa não é a questão.

Ontem, nesse 3º tempo, foi o de história com o professor de nome Alberto(nome fictício). Segundo o mesmo disse em uma aula dele, é formado em direito (ele é advogado), história e psicologia. De um homem com tais graduações, devemos esperar dele aulas muito bem embasadas, com opiniões muito bem justificadas ou até mesmo uma notável neutralidade sobre as mais variadas questões. Pensar isso dele é o mesmo que sonhar que vai ganhar na mega sena a cada jogo por você feito. Para mim, este professor é a prova de que nem todas as pessoas com bons estudos ou conhecimentos são pessoas de plena ou considerável sabedoria. O que vemos sair de sua boca é apenas opinião pessoal e uma certa imposição de pensamento disfarçada dentro de sua opinião pessoal. Não preciso dizer que minha participação nas aulas deles são pouquíssimas. Faço isso para não coalizar e reafirmar seus pensamentos.
Voltando ao ocorrido, ontem em seu tempo de aula, o professor Alberto resolveu discutir sobre a questão de um ocorrido em Manaus que também foi noticiado pelo Paulo Lopes em seu blog de cunho jornalístico (na verdade eu que recomendei essa notícia a ele) sobre 13 alunos evangélicos que se recusaram a fazer trabalho sobre cultura africana - nem preciso dizer o quão estúpida e ignorante foi a ação desses alunos de 2º e 3º ano do ensino médio. Abordou também sobre o pedido do MPF a justiça para a retirada da frase “Deus seja louvado” das notas de real Brasileira. Começa agora o circo da ignorância.

A aula do século

O professor trouxe para sala de aula uma edição do Jornal A Crítica onde noticiara na capa uma discussão entre os vereadores sobre a atitude desses 13 alunos evangélicos. Tirou a aula dele para discutirmos sobre isso. Começou dizendo se nós estávamos por dentro desse ocorrido. Só eu (sério, nessa hora me senti novamente um alienígena) estava bem informado sobre o caso. Para questão de informação, aqui em Manaus é vendido uns jornais baratos e de informações rápidas e resumidas. Estes valem R$ 0,25 e R$ 0,50. Já não consigo ler estes jornais por nada de bom estar nele. Vejo apenas mulheres de bunda para fora, notícias de mortes e prisões, futebol, novelas e horóscopo, além claro de fofoca da vida dos famosos. Um jornal feito especialmente para as massas que não se preocupam tanto em pensar. Praticamente todos em sala (fora alguns) leem e gostam desses jornais. Era de se adivinhar.

Depois de ler um pouco sobre essa notícia, começou a falar que o estado brasileiro é laico e por isso o Brasil não compactua com nenhuma religião ou crença em definitivo. Nisso ele ao menos está certo e informou bem aos alunos que estavam presentes. Logo após, falou sua opinião pessoal dizendo que a atitude desses 13 alunos evangélicos era errada e estavam agindo como pessoas ignorantes sobre a cultura africana. Ele está certo novamente. Perguntou de ama aluna chama chamada Raquel(nome fictício) se ela faria a apresentação sobre a cultura africana. Ela disse que não. Alberto perguntou: Porquê você não faria? Não me lembro da Raquel ter respondido a pergunta, acho que ela apenas se absteve de responder. Sabendo que ela não iria responder, começou seu discurso contra os “crentes”, assim chamado os evangélicos no senso comum das pessoas.

- Alberto: Hoje as pessoas erram em seus atos e depois que entram em uma igreja evangélica, dissem que estão salvas. Colocam um paletó e uma bíblia em baixo do braço e já sei diz pastor. Olha, padre para ser padre, tem de estudar geralmente uns 10 anos, tem que aprender  teologia e filosofia. Algo que esses pastores possivelmente nem sabem que existem filosofia. Lógico, tem uns pastores que são bons, mas a maioria sabe pouco. Sabem qual é a religião mais antiga do mundo? É o cristianismo. As outras religiões vieram depois de Cristo. Por isso que digo que sou cristão apostólico romano e crente, porque todos creem em Deus. Vocês se lembrar das eleições a prefeitura de manaus? A Vanessa era uma das candidatas e disse em pleno debate que acreditava em Deus. Ela não podia porque era do PC do B. Ela é comunista e isso é uma contradição.

Antes de eu começar a destrinchar sobre a fala do professor Alberto, durante a parte do PC do B, uma amiga minha perguntou sobre isso.

- Aline(nome fictício): mas o que é comunismo e porque isso não acredita em Deus?
- Diego(nome fictício): o Frank deve saber, já que ele não acredita em Deus. É um comunista também.
- Frank(eu): não sou comunista, sou apartidário.
- Diego: esse Frank é todo idiota !

Para quem não sabe, essa é a minha posição sobre partidos políticos. Não compactuo com a filosofia de nenhum partido e por isso meu apartidarismo. A Wikipédia diz que “Apartidarismo é uma ideologia política, na qual organismos (movimentos sociais, associações, agremiações, etc.), ditos apartidários, prezam por manter distância entre o que é construído e/ou defendido dentro da organização e interesses quaisquer de qualquer partido político”. Mas, para meu amigo Diego, por eu não acreditar em Deus faz de mim obrigatoriamente comunista. É uma ignorância da parte dele dizer isso.

Vamos analisar por partes a fala (para não dizer falácia) do professor Alberto.

1. “Hoje as pessoas erram em seus atos e depois que entram em uma igreja evangélica, dissem que estão salvas. Colocam um paletó e uma bíblia em baixo do braço e já sei diz pastor”.

Isso é ter senso comum sobre uma situação nova em relação a religião no Brasil. Ultimamente o aumento de evangélicos no Brasil foi grande, sendo que, nas eleições no mês de Outubro, o apoio de pastores evangélicos e líderes de igrejas evangélicas foi uma das armas políticas e foi de intenso debate a misture de política com religião. Antigamente, quando grande parte da população era católica, se tornava católico as pessoas que erravam em seus atos perante a sociedade. Hoje, isso é simbolismo de evangelização daqueles que muito erraram na humanidade e, de acordo com suas crenças religiosas e pessoas, encontram o perdão em uma igreja evangélica e em Cristo. Tanto é que a igreja católica é a que mais perde fiéis por causa desse conservadorismo, sendo que seguem a palavra de Jesus Cristo. Tenho certeza que Jesus está extremamente triste e magoado com a maioria dos cristãos.

2. “Olha, padre para ser padre, tem de estudar geralmente uns 10 anos, tem que aprender  teologia e filosofia. Algo que esses pastores possivelmente nem sabem que existem filosofia. Lógico, tem uns pastores que são bons, mas a maioria sabe pouco”.

Em relação ao tempo de estudo para ser padre, realmente é isso mesmo. Geralmente leva 10 anos e pode levar até mais. Sim, tem de aprender filosofia e teologia principalmente, entretanto, vale colocar um adendo sobre isso. O que ele aprendem sobre filosofia é um pouco diferente da filosofia ensinada em meio acadêmico. Isso acontece porquê a igreja católica tem uma tradição de apreciar o conhecimento, mesmo existindo muitas histórias que pudessem dizer o contrário. Em universidades como a de Bolonha, a mais antiga do mundo ocidental (mas não a primeira universidade do mundo) que foi desenvolvido o ensino da filosofia com o da teologia. Um padre pode ser um filósofo? Plenamente! Nada o impede de poder fazer uso dos seus conhecimentos filosóficos para geram mais conhecimento filosófico. Lógico, tem um porém: o padre, para ser um filósofo em sua plenitude, precisa abandonar sua crença. Mesmo sabendo filosofia e a usando, quando a questão for a da religião ou a de alguma crença em um ser supra natural, ele vai defender que existe no mínimo um Deus ou um criador. Ai que está a diferença do ensino filosófico para um padre, isso sem contar que o ensino da mesma para ele se ajusta as questões da igreja católica.

Sobre o ensino da Teologia, ela é algo exclusivamente católico não? ERRADÍSSIMO! Se você já leu o diálogo A República de Platão, sabe que lá que foi abordado pela primeira vez a palavra Teologia que significava compreender de forma racional a natureza divina. Se você teve uma educação decente, vai conseguir entender bem o que eu vou falar agora. Senão, tente acompanhar o raciocínio:
- Na Grécia Antiga, época em que foi escrito a narrativa - A República -, o povo heleno acreditava em vários deuses, sendo Zeus o mais fodão deles. Sendo assim, a população helena era politeísta, ou melhor, acreditava em vários deuses. Muitos poetas (Aedos e Rapsodos) escreviam poesias sobre esses deuses e tudo mais que se tem direito sobre os mesmos. Os poetas eram chamados de teólogos, mas foi Platão que fez essa separação, tornando a teologia algo mais racional, senão científico.
- Depois de alguns acontecimentos históricos - não vou escrevê-los porque a postagem passaria de grande para enorme - parte do conhecimento dos gregos foi preservado pela igreja católica. Estamos no início da idade média. Santo Agostinho foi o mais conhecido entre eles e que fez bons avanços na teologia ensinada pela igreja católica.
- Não se engane: a teologia não é de ensino exclusivo para a igreja católica. Existem os mais variados tipos de teologia. Vou citar alguns: teologia hindu, a teologia budista, a teologia judaica, a teologia católica-romana, a teologia islâmica, a teologia protestante, a teologia mórmon, a teologia umbandista, entre outras.

E os pastores, como ficam? Grande parte dos pastores tem no mínimo um ensino médio completo e somente conhecem do Deus que creem da bíblia e de livros de classificação gospel que leem. Mas, repetindo: grande parte. Tem pastores com uma ótima formação filosófica adquirida somente com a leitura da bíblia. Aliás, a bíblia é considerada um livro com conhecimentos morais e éticos - recomendo a vocês que não tentem seguir a moral e a ética da bíblia, pois podem dar a cara a tapa na sociedade. Outros se aprofundam de forma separada com ensinos filosóficos e teológicos, através de cursos. Não vai ser a falta de acesso a informação que o impedira de conhecer mais sobre em que creem para poder posteriormente compartilhar com seu rebanho.

3. “Sabem qual é a religião mais antiga do mundo? É o cristianismo. As outras religiões vieram depois de Cristo. Por isso que digo que sou cristão apostólico romano e crente, porque todos creem em Deus”.

No momento em que ele afirmou que o cristianismo era a religião mais antiga do mundo, minha fé na humanidade encolheu mais um pouquinho. E essa minha fé já é minúscula e está indo para uma escala microscópica. Aproveitarei aqui para explicar sobre o que é ignorância e alienação. Logo após, voltarei com minha refutação a essa afirmação sem pé nem cabeça.

Ignorância: segundo a Wikipédia “refere-se à falta de conhecimento, sabedoria e instrução sobre um determinado assunto ou pior quando chega a ser como uma doença na qual o seu portador desconhece quase tudo tendo em lugar de conhecimentos plausíveis preconceitos que se interligam fazendo um sistema ideológico simplificador e redutor”. “O ignorante estabelece critérios (sempre baseados em alguma falácia ou preconceito) que desclassifiquem o conselho alheio, em favor de seus preconceitos, supertições, crendices, estabelece ideias falsas sobre si mesmo e o mundo que o cerca em conformidade com os preconceitos professados”. “Ignorância é não saber, ou ignorar conhecimento, omitir-se conhecer ou passar a conhecer, é negar a captação e aceitação do conhecimento humano, seja tal conhecimento humano ou científico e portanto provável empiricamente ou o filosófico que tem sua racionalidade demonstrada através de reflexão rigorosa demonstrada como válida pelos métodos lógicos.

Alienação: “Alienação é um processo pelo qual uma pessoa vive para o outro e para a realidade do outro. Perde-se a consciência de si mesmo e da sua realidade e vive-se em função do outro e de outra realidade. Existe a alienação religiosa que surgiu da necessidade do homem de explicar a origem e a finalidade do mundo e da vida. Como não consegue explicar, projeta um ser superior e atribui a este mesmo ser a origem de tudo. O homem não se conhece como agente da história. Ele desconhece que é ele mesmo que cria a sua realidade, sociedade, política e divisão social do trabalho. Esse desconhecimento chama-se alienação social. Marx define a alienação econômica como exploração do trabalho. O trabalhador produz, mas não recebe o valor merecido pela sua produção. O trabalhador é, dessa forma, desumanizado e transformado na condição de produto. O homem se aliena da sua humanidade quando é transformado pelas relações de produção em mercadoria.” Mais informações aqui.

Com essas explicações, já deve estar bem claro para você leitor que este professor é ignorante com relação a historicidade das religiões e alienado ao meio em que vive no que diz a crença de todos nós. Não se sabe ao certo qual foi a primeira religião, mas sabemos que ela, em algum momento, foi criada na África. Pode isso produção? Sim, e vou explicar o porque. Os primeiros humanos se originaram na África. O ensino histórico da evolução dos povos humanos é indispensável e todos aprendem isso. O homem desde cedo tentava explicar as forças na natureza, que eram de causas desconhecidas para nossos primeiros parentes humanos. Ainda com pouquíssimo conhecimento. Com isso, várias foram as explicações para essa questão. Como eram várias as forças da natureza, as primeiras religiões eram politeístas. Essa coisa de acreditar em um só deus é algo mais “recente”, sendo que as primeiras provas ou as mais antigas provas de monoteísmo eram da época da Grécia, quando algumas pessoas começaram a acreditar exclusivamente a algum dos vários deuses gregos. Se você acredita no Deus da bíblia, você acredita em um Deus recente, pois existiam muitos antes dele. Devem existir mais de 5 mil deuses criados pelos humanos, incluindo o Deus em que acredita.

Bom, caso você queria saber mais, de modo científico sobre o Deus judaico-cristão, segue um link e um vídeo.


Outra coisa que ele diz é que todos creem em Deus. Mentira das grandes! Essa ideia de que Deus não existe é recente, coisa de mais de 150 anos para cá. Com os avanços da ciência, o mundo passa por um processo chamado secularização. Você conhece alguém que não tem vinculo com igreja ou religião? Ou que tenha tudo isso e duvide de Deus? Ou que tenha uma posição indiferente sobre Ele? Por exemplo, eu sou agnóstico. O agnóstico é aquele que tem como filosofia de vida o agnosticismo, onde sua posição sobre Deus é indiferente. Nesse caso, o agnóstico é aquele que não liga para a existência ou não existência de Deus ou deuses. Sendo assim, mesmo que provem que Odin existe ou não, ele pouco se importará com isso, pois não faz nenhuma diferença na sua vida. Esse sou eu, prazer. Mas, você já deve ter ouvido eu falar que eu não acredito em Deus. Como pode isso Frank? Você não disse que era agnóstico? Sim, e ainda continuo. A questão é que, quando falo que não acredito em Deus, digo que não acredito no Deus judaico-cristão. Ou melhor, que não acredito no Deus do judaísmo, cristianismo e islamismo, pois todos eles são o mesmo Deus. Se você viu o vídeo que eu coloquei ai, sabe que essa minha firmação é coerente.

Aqui termina a primeira parte dessa postagem, pois senão ela ficará muito grande cansativa. :)

Unknown

Phasellus facilisis convallis metus, ut imperdiet augue auctor nec. Duis at velit id augue lobortis porta. Sed varius, enim accumsan aliquam tincidunt, tortor urna vulputate quam, eget finibus urna est in augue.

Nenhum comentário:

Postar um comentário